Olá...
São duas da manhã. Renata trouxe vinho e
queijo e muita conversa boa sobre como estamos sempre sendo subjugadas e ainda
assim nos sentimos mal. Aquele velho papel de sempre que nos é dado, e quando não nos
submetemos, somos consideradas indomáveis.
Me considero uma pessoa romântica, apesar de
tudo, e essa fórmula moderna de romance, esses amores líquidos com pessoas que
retém sólidos, sempre me faz refletir sobre como será o próximo relacionamento.
Ou se irá de fato acontecer. Simplesmente não consigo visualizar um nenhum tipo
no momento. Os homens com quem tenho me relacionado, sempre buscam o lado
materno na mulher, não consideram companheirismo de igual pra igual. Exigem
muito e fazem quase nada, quando fazem. E reclamam, como reclamam! Começo a
divagar, então, sobre a fragilidade masculina, quase feita de cristal. Como os
homens sempre reclamaram que somos complicadas, ou loucas, mas nunca falam
sobre seus sentimentos, e geralmente, enlouquecem as mulheres.
Torna-se assim qualquer relacionamento
inviável, contextualizando relacionamento como duas pessoas (no mínimo), onde
ambas coexistem, tem desejos, frustrações, ideais, expectativas.
Vivemos numa realidade onde não se pode mais
criar expectativas, pois estamos sempre a mercê da instabilidade emocional
alheia (como se não tivéssemos as nossas). Porém muitas vezes, somos obrigados
a prover inteligência emocional para dois. Nunca consegui continuar um
relacionamento. E notei que sempre me coloquei como coadjuvante, e, quando o
calo apertava, a outra pessoa não compreendia meu SOS, pois sempre esteve em
primeiro lugar. Hoje consigo ser mais consciente sobre o que eu preciso, o que
posso dar, o que posso esperar, o que devo e não devo esperar.
Foram necessárias incontáveis horas de
conversas comigo mesma. Devaneios, loucuras, embriaguez, lucidez, medo,
cobranças... até que a tempestade foi passando e foi chegada a hora de plantar
o que desejo para o meu futuro: novos caminhos, motivações, como aprender a nutrir
meu corpo, minha mente, minha alma, como aprender a contar com as pessoas que
estão ao meu redor e me apoiam; aquelas que conhecem e reconhecem minha
essência. Mas o principal, foi eu me perdoar de tudo o que eu acho que não deu
certo, simplesmente por que não saiu de acordo com o que eu planejava, ou como
eu penso que seria certo agir, lá atrás, lá no passado. E esse passado me doeu
por muitos anos, me massacrou. Mas quem o fazia, era eu mesma. Eu me
massacrava, eu me esganava com toda aquela culpa. Como se dependesse apenas de
mim, meu destino.
Me perdi demais na vida, desde nova. Ainda não
me encontrei, mas posso dizer que já sei bastante sobre mim. Ou o suficiente
pra chegar até aqui.