quarta-feira, 24 de julho de 2019

sobre os líquidos nada insólitos


O príncipe de ontem virou o sapo desconhecido de hoje. Depois de tanta admiração e divagação, revelou-se nada mais do que mais do mesmo, usando apenas uma temática diferenciada. Até a minha alma já está cansada dessa reação efêmera dos homens sobre relacionamento.
Ultimamente, os homens que conheço tentam dar uma aula sobre como eu devo seguir com a minha vida, e enquanto fazem isso, não escutam absolutamente nada do que eu tenho a dizer, não adentram meu universo, não penetram na minha essência. Não há momento de empatia, e sim mera adequação remetida ao tipo de aceitação do masculino para o feminino. Algo como um tipo de obrigatoriedade comportamental. Descobri que o mais desconstruído homem hétero é ainda apenas um homem, e aí veio a constatação de que, para muitos, ser homem é um estado confortável para quem lhe convém. Dá um pouco de agonia e desespero. Vivo num estado dopado quando se trata de amor / relacionamento. Quero me entregar e entender, mas nunca vinga nessa realidadezinha efêmera atual, que mistura várias realidades e egos. De algum modo o fim da história é basicamente o mesmo. Segue um padrão passo a passo:
1- flerte - tempo dedicado e focado na conquista, no modo honesto.
2- horas e horas de conversa por meio virtual, e tanta atenção acaba tornando-se irresistível.
3 - o encontro na vida real nos parece definir algum ponto na nossa própria história. tem olho no olho, tem toque com intenção de troca, tem atenção.
4 - a entrega acontece. a felicidade existe, sensação de plenitude alcançada, bússola interna parece aprumada. sensação de fluidez.
5 - o dia seguinte:                
(existe um espaço só para ele, pois normalmente é vazio)
6 - alguém finge que nada especial ou espontâneo aconteceu, como se a vida fosse sortida e boa, sorridente e leve.
7 - auto preservação é automaticamente acionada, desentendimento, falta de comunicação, vergonha, todos esses sentimentos rodopiam pelas veias, nos fazendo correr imediatamente de volta a nossa caverna, para nosso falso senso de segurança que nos “protege”.
8 - trauma. entregar-se, mesmo que por instantes, é extremamente difícil. desperta um sentimento pulsante de incredibilidade e esquecimento. arrependimento. desconfiança no próprio ser.
9 - passado o tempo de negação, é chegado o retorno da necessidade de compartilhar com outro ser. desejo de identificação, afinidade, cumplicidade.
E assim se roda a roleta do relacionamento atual, nulo, vago, infantil, carente.  Eufemismo é tratar tanta indiferença denominando de relações líquidas.

sábado, 22 de junho de 2019

desvio


Sigo na minha vitória régida, com cautela e buscando confiança no caminho. Nele há pedras e correntezas que me fazem pensar em desistir. Não saber o percurso é uma dúvida latente, tento sentir o curso desse rio desconhecido, que me acalenta e amedronta simultaneamente.
São muitos medos, internos e externos. Persistir na navegação desconhecida é pura coragem e entrega. Simbiose e heterogeneidade em conflito. Seguir o desconhecido é uma escolha solitária. A vontade é dominante e ás vezes cega os sentidos e a razão. Desbravar é estar vulnerável, munida de dúvida e fé.
*às vezes o sentimento de antecipação e incredibilidade dominam meu ser, me puxam para a terra, para um porto seguro já bem conhecido e particular. Há dúvidas se existir ou resistir é sobreviver.

sábado, 1 de junho de 2019

expectativa de expectadora.

Percebi que as pessoas andam tão desapontadas com o todo, que não esperam mais nada de nada, simplesmente por terem depositado algum aguardo. Mas percebo que a falta de expectativa em si, acaba gerando um desdém em qualquer já antes projetada.
Como se expectativa fosse algo ruim, que de fato diminuísse a própria vontade.  Expectativa faz parte da esperança, credibilidade, ou, FÉ.
Fé remete à religião, mas é muito superior. É o poder de acreditar em algo que vibra intensamente, mesmo quando não vibramos nada. É muito mais intenso do que acreditar ou creditar em alguma fala ou algum aprendizado que não nos pertence. Fé é intrínseco e particular, impenetrável, e , ao mesmo tempo, imenso. Fé é cuidar, querer pertencer, trocar ou somente dar.
Existe vontade, desejo, necessidade. Mas a doação anda tão em extinção como as espécimes que dissolvemos. *é praticamente a mesma coisa: sempre aniquilar o que não se compreende ou não se domina.*
 Conviver é para poucos. O esquema é dominar, e isso é o maior sinal de fraqueza que existe, pois só domina quem quer poder. Só quer poder quem não quer dividir. O poder tem tantas vertentes que quem o quer jamais se identificará com qualquer outra coisa... E o que é o "poder"?
É tomar, ter para si, é ser intransigente, intolerante, vazio, vago, pequeno.
Somos raízes, crescemos para todos os lados. Não existe unilateralidade, não existe individualidade, quando se depende o tempo todo de algo ou alguém.
O ser humano está fadado a aniquilar tudo que existe e pulsa, simplesmente pelo capricho de não saber lidar com si próprio.

sexta-feira, 31 de maio de 2019

só lidão


Nossa, que enfadonho ficar escrevendo e pensando nessa falta do que é essencial nos tempos de hoje.
Mas enfadonho mesmo é o dia a dia, é vivenciar, presenciar, suportar cada ego carente desconfigurado e falsamente inflado por pura necessidade de auto aceitação.
No final, antes de qualquer começo, é imposta uma filtragem traiçoeira de afinidades, selecionando pessoas por um modo conveniente, pois nada mais é do que um espelho, com olhos de quem tenta desviar seus próprios defeitos e exigir de quem estiver mais próximo o dobro do que nunca será atingido por si próprio. 
Uma batalha inútil, injusta e infinita, que luta apenas pelo umbigo próprio, por aquilo que é descartável no outro ser mas nunca em si. Me questiono frequentemente o caminho, fluxo, o dever de tanta falsa propriedade. É castradora e arrasta consigo limites que vão muito além do auto questionamento. É uma cobrança dura e hipócrita que sempre transfere a carga para quem está próximo.
É um padrão de punição e perdão doentio, e infantil e irresponsável.
Transmitir e ao mesmo tempo renegar perpetuamente.

segunda-feira, 6 de maio de 2019

extra.ordinária



Olá...
São duas da manhã. Renata trouxe vinho e queijo e muita conversa boa sobre como estamos sempre sendo subjugadas e ainda assim nos sentimos mal. Aquele velho papel de sempre que nos é dado, e quando não nos submetemos, somos consideradas indomáveis.
Me considero uma pessoa romântica, apesar de tudo, e essa fórmula moderna de romance, esses amores líquidos com pessoas que retém sólidos, sempre me faz refletir sobre como será o próximo relacionamento. Ou se irá de fato acontecer. Simplesmente não consigo visualizar um nenhum tipo no momento. Os homens com quem tenho me relacionado, sempre buscam o lado materno na mulher, não consideram companheirismo de igual pra igual. Exigem muito e fazem quase nada, quando fazem. E reclamam, como reclamam! Começo a divagar, então, sobre a fragilidade masculina, quase feita de cristal. Como os homens sempre reclamaram que somos complicadas, ou loucas, mas nunca falam sobre seus sentimentos, e geralmente, enlouquecem as mulheres.
Torna-se assim qualquer relacionamento inviável, contextualizando relacionamento como duas pessoas (no mínimo), onde ambas coexistem, tem desejos, frustrações, ideais, expectativas.
Vivemos numa realidade onde não se pode mais criar expectativas, pois estamos sempre a mercê da instabilidade emocional alheia (como se não tivéssemos as nossas). Porém muitas vezes, somos obrigados a prover inteligência emocional para dois. Nunca consegui continuar um relacionamento. E notei que sempre me coloquei como coadjuvante, e, quando o calo apertava, a outra pessoa não compreendia meu SOS, pois sempre esteve em primeiro lugar. Hoje consigo ser mais consciente sobre o que eu preciso, o que posso dar, o que posso esperar, o que devo e não devo esperar.
Foram necessárias incontáveis horas de conversas comigo mesma. Devaneios, loucuras, embriaguez, lucidez, medo, cobranças... até que a tempestade foi passando e foi chegada a hora de plantar o que desejo para o meu futuro: novos caminhos, motivações, como aprender a nutrir meu corpo, minha mente, minha alma, como aprender a contar com as pessoas que estão ao meu redor e me apoiam; aquelas que conhecem e reconhecem minha essência. Mas o principal, foi eu me perdoar de tudo o que eu acho que não deu certo, simplesmente por que não saiu de acordo com o que eu planejava, ou como eu penso que seria certo agir, lá atrás, lá no passado. E esse passado me doeu por muitos anos, me massacrou. Mas quem o fazia, era eu mesma. Eu me massacrava, eu me esganava com toda aquela culpa. Como se dependesse apenas de mim, meu destino.
Me perdi demais na vida, desde nova. Ainda não me encontrei, mas posso dizer que já sei bastante sobre mim. Ou o suficiente pra chegar até aqui.

segunda-feira, 22 de abril de 2019



everything in it's right place (?)
já não tenho mais a mínima vontade de fazer a social. gostaria de dizer que me sinto melhor comigo, porém não há atrativos. quando existem e dou uma chance ao acaso, sempre fica em evidência quem fala mais, mais alto, mais carente uma competição pra receber medalha da deprelândia, e já tenho várias no meu coraçãozinho. nesse momento, inevitavelmente alcanço um estado de auto anulação, buscando alguma admiração no discurso. eu não importo. mas também vou fingir que me importo. tudo é vago, é vão. não me sinto parte de algo tão inconstante, tão nuvem ao ponto de despender atenção e me colocar numa posição sob. não deixa de ser uma leve tempestade particular, a qual não sou convidada e nem quero ser. tempestades não são convidativas. me aninho num manto de pragmatismo antecipado, ou ansiedade real que tende a questionar e pairar sobre relações líquidas. atualmente, todas se tornaram assim. não escapo, não me excluo. porém não sou e nem quero ser santa, e tenho pouquíssima tolerância para falta de tolerância. todo mundo precisa se abrir, todo mundo precisa de um acalento, um ouvido, um abraço. ignorar isso e somente suprir o que é necessário a si é de um egoísmo que renego. passo minha vida a conhecer, me encantar e desencantar-me pelo ser humano.
eu ouço a chuva cair lá fora, enquanto me desaguo por dentro sem me abalar, e nenhuma expressão se solta em meu rosto. isso não é excesso de nada; nem de força nem de fraqueza. é uma ser bem  estáticazinha nesse tempo e espaço que me é permitido, aqui e agora.

quarta-feira, 17 de abril de 2019


um.

Depois de um longo, bem longo dia de trabalho, tomando um vinho na casa duma grande grande amiga.
Entre mil papos e cigarros, pairando por Orishas e Manu Chao, ela me conta que seu namorado a levou em três (3) eventos de família, diferentes, em um único dia. Ambas pasmas.
Pausa dramática.
Nos demos conta que, em nosso universo feminino, isso seria impossível.  Porque quando a gente convida o carinha para churrasco da família, ele já leva como pedido de casamento, mesmo que tenha sido exatamente da mesma forma despretensiosa.
 E começamos a pensar sobre "Sexo Oposto". É muito oposto! E o quão cultural ou histórico ou hereditário seja, há uma distância gigantesca entre seres que não se habitam, e às vezes, tampouco se orbitam. É a perpetuação da falsa distância: Quando dois seres sentem as mesmas coisas, mas vieram de universos diferentes, mesmo que tenham sido criados no mesmo lar, sob o mesmo teto.
A mulher sempre foi reconhecida pela sensibilidade. Nós conversamos umas com as outras, e com o todo, e tentamos entender o porquê de absolutamente tudo. Alguns homens acham enfadonho e esse é um dos problemas. Nós acabamos sendo as "esquisitas", ou "loucas", simplesmente por questionar e validar o que recebemos nessa vida. E assim, nos distanciamos mais e mais. Tudo é sentimento. Primeiro, vem a sensação. Depois, o sentimento. Faz parte de todas as etapas que passamos para evoluir tudo o que precisamos evoluir.
Vivemos num mundo que tentamos nos unir; por qualquer gosto que seja, e nesse movimento, acabamos por nos perder num vórtice de sensações inúteis, apenas por tentar suprir algum vazio dentro de nós mesmos. Nos desprendemos uns dos outros, mas antes, nos desprendemos de nós mesmos, dos nossos vícios e comportamentos.